O Livro das Causas: Liber de Causis

Os medievais trabalharam durante longas décadas com duas grandes falsificações históricas: o corpus areopagiticum, que atribuíram a Dionísio, o discípulo de São Paulo, e o Líber de causis, que relacionaram a Aristóteles. Quanto à obra de Dionísio, somente no século passado foi demonstrado que se tratava de um conjunto de obras do século VI, de autor desconhecido (provavelmente um monge sírio). Já o Líber de causis, também conhecido como Livro da suprema bondade, não teve uma sobrevida tão grande: Tomás de Aquino, ao deparar-se com a tradução da Elementatio de Proclo, constatou que partes da obra provinham quase literalmente deste pensador grego, último chefe da Academia platônica.

A importância da obra provinha, principalmente, de sua atribuição a Aristóteles, parecendo tratar-se de uma continuação e complementação do livro da Metafísica, no qual tratara da divindade. Ora, seria maravilhoso para os cristãos que o Filósofo tivesse avançado tantas idéias sobre Deus em si e como causa do mundo. Mas a obra, como Tomás demonstrou, não provinha dele, nem de seu meio. Repleta de temas neo-platônicos, mostra a crítica moderna que seu autor é um pensador árabe, conhecedor do neo-platonismo tardio, e que a redigiu em árabe. Quem foi este autor, talvez jamais saibamos.

O Prof. Dr. Jan Gerard ter Reegen, belga de nascimento, mas há muitos anos radicado no Brasil, leciona na Universidade Estadual do Ceará. Pertence ao Grupo de Filosofia Medieval que há anos se reúne no Brasil. O volume aqui apresentado é fruto de suas aulas e de suas pesquisas; conta com uma longa e altamente técnica introdução, à qual se segue o texto em seu original latino e na versão portuguesa.